Muitos dos comportamentos e manias das crianças ainda quando
bem pequenas nos levam a rir e admirar a inocência dos pequenos. Porém, alguns
deles nos deixam desconfortáveis e nos colocam até em situações embaraçosas. Um
deles, com certeza, é o caso das mordidas.
Segundo a psicóloga Simone Cruvinel H. de Almeida, a etapa
das mordidinhas pode ir até os 3 anos de idade. “Todo seu conhecimento de mundo
e suas formas de se comunicar giram ao redor da boca, sendo assim a criança está conhecendo a si mesma e
o mundo ao seu redor, na chamada fase oral. Isso é quando o reflexo é levar
tudo para a boca em um ato de conhecer aquilo ou aquele”, explica a
psicóloga.
Na escola, as mordidas são mais comuns por causa da
convivência com os colegas de sala. Às vezes, podemos pensar que a criança
mordeu em um ato de ira, mas na verdade isso se dá por um ato de euforia, seja
um grande estímulo de raiva ou frustração por alguém que não quer dividir o
brinquedo, bem como um forte estímulo de alegria de ver aquele amigo tão querido
chegar no colégio.
Os professores são os primeiros a ser acionados quando o problema aparece. A coordenadora da educação infantil do Crescer, Bruna Maffeis, explica como lidar com essas situações no ambiente escolar. “A ação inicial é sempre acalmar a criança e, em seguida, explicar para o colega que mordeu que sua atitude não foi legal e que resultou em dor e choro, mesmo sem a intenção de machucar”.
As professoras também solicitam a ajuda de quem mordeu para
“cuidar” do amigo mordido, criando uma noção de responsabilidade. “Se o caso é
recorrente com a mesma criança, é preciso identificar os momentos em que
ocorrem as mordidas e então redobrar a atenção para evitar. Propomos sempre
atividades que estimulam a boa convivência entre os alunos”, reforça a
coordenadora.
No Colégio Crescer é aplicado no Integral o projeto: “Quem
morde é cachorrinho, criança faz carinho”, pela professora Elaine Sofa.
“Trabalhamos com o maternal o projeto baseado no livro “Mordida não,
Napoleão!”, e tivemos uma grande evolução com alguns casos de mordidas
recorrentes. A criança que antes não conseguia se comunicar e acabava mordendo,
começou a olhar e dialogar melhor com os amigos ao redor. Esse trabalho foca a
dor no próximo e a criança entende que a mordida machuca, dói e o amigo fica
triste. Fizemos várias atividades com o personagem Napoleão e até teatro, o que
ajudou muito a fixar a mensagem entre os pequenos”, conta Elaine.
O projeto Napoleão rendeu ótimos resultados com a turma e
por isso é sempre trabalhado em sala de aula, mas além do envolvimento de
professores e colegas, a coordenadora ressalta que é preciso a participação da
família no processo educativo. “Quando isso ocorre, somos sinceras com os pais,
explicando exatamente o que aconteceu, mas preservando o nome da criança para
evitar rotulações e ajudá-la a passar por essa fase”, ressalta Bruna.
Para os pais algumas dicas são valiosas para trabalhar em
casa: levar a criança para lugares onde possa socializar com outras da mesma
faixa etária, como parques e playgrounds. Alguns livros também são grandes
aliados nesse processo, como o “O Tigrinho Davi: aprendendo a não morder os amiguinhos”,
leitura interessante para ilustrar aos pequenos.
O importante é saber que a fase vai passar e se comunicar com a criança deixando claro que
entende os sentimentos que a levaram a morder o colega, mas que não é a atitude
correta, lidando sempre com carinho e diálogo.